quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Fatores psicológicos envolvidos na obesidade

A obesidade vem apresentando um aumento significativo em sua incidência a partir da segunda metade do século XX, caracterizando-se atualmente como a mais prevalente doença crônica nas nações modernas. É o distúrbio do metabolismo mais comum no ser humano e o mais antigo já registrado na história da humanidade, estando associado a uma série de outras enfermidades, como doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão arterial.


Diante desse quadro, evidencia-se a relevância de abordagens que propiciem tratamento e prevenção desse mal. Nesse sentido, a palestra ministrada aos pacientes do grupo de obesidade do CAIS Novo Mundo tem por objetivo abordar aspectos emocionais/psicológicos envolvidos na dinâmica dessa grave doença.

Para tanto, os pacientes são inicialmente informados sobre os aspectos gerais relacionados à caracterização da obesidade enquanto uma doença sempre presente na nossa história, mas com incidência crescente ao longo dos anos. A mudança do estilo de vida, com suas inevitáveis conseqüências – como aumento de comodidades, diminuição de atividade física, aumento de alimentação calórica – é apontada como a principal variável responsável pelo crescente aumento da obesidade nas mais diferentes idades e classes sociais.

Na seqüência, os pacientes são levados a refletirem sobre como fatores emocionais, como ansiedade e depressão, podem estar associados a padrões inadequados de alimentação e, conseqüentemente, a distúrbios alimentares.

É discutido como muitas vezes as pessoas estabelecem uma relação entre sentimentos considerados aversivos, e o ato de comer como um alívio para tais sentimentos. Para a pessoa obesa, tal relação é fortalecida porque, realmente, a comida na boca propicia prazer e parece reduzir os níveis de stress. No entanto, tal estratégia só funciona momentaneamente, levando a pessoa a desenvolver um círculo vicioso onde ela come para aliviar sentimentos ruins, engorda, volta a sentir-se mal, come novamente para aliviar-se, engorda mais ainda, e assim por diante. A utilização do comer para aliviar emoções negativas funciona, portanto, como uma verdadeira armadilha. Os pacientes são conscientizados sobre como a inabilidade para lidar de forma efetiva com seus sentimentos aversivos – tristeza, raiva, ciúmes, ansiedade – pode levar a uma utilização inadequada do alimento como “válvula de escape”, isto é, como fonte de alívio.

É comum que a relação entre comida e sentimentos ruins seja estabelecida na infância. A aprendizagem da utilização do alimento como um poderoso remédio para alívio dos males da vida, juntamente com a prática de hábitos alimentares inadequados, são responsáveis por muitos casos de obesidade infantil e adulta. Nesse sentido, os pacientes são levados a refletirem sobre a real função que a comida desempenha na vida de cada um, isto é, com o quê ela parece estar associada; que tipos de necessidade parece suprir, etc.

Dessa forma, os pacientes são informados sobre como é comum que pessoas obesas apresentem dificuldades emocionais e como a inabilidade em buscar formas adequadas e saudáveis de lidar com tais dificuldades pode levar a um quadro de obesidade. Também é discutido como o comer excessivo pode intensificar a desarmonia do nosso organismo e aumentar o nível de stress. A real função da alimentação em nossa vida – prover nosso organismo da energia necessária para a realização de nossas atividades físicas e mentais – é colocada em foco e enfatizada.

É comum que a pessoa obesa tenha sua auto-estima rebaixada em função de não ter um corpo que se conforme aos padrões sociais estabelecidos. Tal fato pode levá-la a adquirir uma reação de auto-rejeição, onde ela acredita ser inferior em relação a outras pessoas. Isso pode afetar sua auto-imagem fazendo com que ela menospreze e rejeite seu próprio corpo. Assim, ela acaba não se cuidando mais, apresentando uma conduta de desleixo para consigo mesma. Os pacientes são conscientizados sobre essas questões e estimulados a valorizarem e a gostarem de si próprios, independente das inadequações sociais que fisicamente possam apresentar. A busca de um peso ideal é relacionada com os benefícios de uma vida duradoura e saudável, e não com a adequação a modelos impostos pela mídia.

O aspecto de que, frequentemente, é observada uma ausência de outras fontes de prazer na vida de pessoas obesas, além da comida, também é abordado. Os pacientes são estimulados a buscarem fontes variadas de satisfação, como leitura de livros, passeios, atividades manuais, prática de atividade física, que lhes permitam retirar o foco da comida e aprender formas outras de obterem prazer na vida.

É comum que a pessoa obesa comporte-se baseando-se em pensamentos rígidos e distorcidos como: “Nunca vou emagrecer porque todos na minha família têm problemas de peso”; “Tudo que como me engorda”; “Fazer exercício físico é muito chato”. Esses pensamentos muitas vezes agem para manter comportamentos inadequados relacionados à alimentação e à prática de atividade física. A inadequação e a validade de tais pensamentos são discutidas junto ao grupo.

Durante toda palestra, os pacientes emitem relatos pessoais que complementam e exemplificam os diferentes aspectos abordados durante a discussão proposta.

Sandra de Araújo Álvares
Mestra em Psicologia
Psicóloga Clínica do CAIS Novo Mundo
Professora Convidada do Dep. de Psicologia da PUC-GO

Nenhum comentário:

Postar um comentário